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  • Writer's pictureChong Hong Taekwondo

O Samurai e o Mestre de Chá


Diz um conto antigo do século XVIII que dois homens se encontraram um certo dia em um ponte. Um deles era um samurai, orgulhoso de sua destreza e pericia marcial o outro um homem mais velho e mestre de cerimônia de chá. Ao cruzarem os caminhos o homem simples por distração toca na espada do samurai, que se vira enraivecido e ameaça desembainhar a katana e mata-lo. Mesmo diante do pedido de pedido de desculpas do homem, o samurai o desafia a um duelo ao amanhecer do outro dia.

O velho homem, um mestre da cerimónia do chá que nunca havia pegado numa katana, não sabia o que dizer. E o samurai disse: "E não penses em fugir! Encontro-te e mato-te como um cão." O mestre abana a cabeça e suspira pensativamente. Olhando o põr-do-sol, decide o que tem a fazer e dirige-se a passo lento para o dojo da cidade. Assim que chega ao dojo, pede para falar com o sensei. "Sensei, venho aqui pedir-lhe um enorme favor, o qual lamento não poder retribuir-lhe devidamente." - disse o mestre de chá. O sensei reconhece o mestre de chá: "Mas, mestre, que se passa? Em que assunto o posso ajudar?" O homem explica a situação pausadamente: "Venho por isso pedir-lhe que me ensine a morrer, sensei." - diz com convicção. "Não entendo. Compreende que nada posso fazer para o treinar até amanhã de manhã?" "Certamente, senhor. Sei que amanhã irei morrer, mas não estou pronto para o fazer. Peço que me ensine como devo pegar na espada, para que possa perder o duelo honradamente e sem mácula para a minha família. Como devo morrer, sensei?" O espadachim hesita, nunca ouvira tais palavras e deseja para si próprio que mesmo os seus melhores alunos conseguissem ter esta atitude. "Muito bem, mestre. Eu lhe ensinarei o que precisa." Cedendo-lhe uma das suas espadas, o espadachim instrui-o numa posição básica até ao chegar da noite e depois diz-lhe apenas: "Agora acalme e concentre a sua mente exactamente como quando executa a cerimónia do chá. Assim, poderá morrer." Agradecendo-lhe, o mestre retira-se em meditação. No dia seguinte, ao nascer do sol, os dois homens voltam a encontrar-se. Sem perder tempo, o samurai desembainha e aproxima-se com um sorriso confiante. O mestre coloca-se igualmente em posição, respira fundo e concentra-se decidido e tranquilo.

Cruzando olhares, o samurai hesita procurando encontrar talvez um laivo de fúria no velho homem, mas nada. Ódio? Medo talvez? Também não. O tempo passa e o samurai observa nervosamente, o suor a escorrer-lhe da testa. Sabendo que não tem hipótese, ele guarda a espada, ajoelha-se e curva a cabeça respeitosamente. "A vitória é sua, mestre!"

A história nos mostra que o mestre de chá se apresentou ao duelo com a destreza de um mestre, ainda que não um mestre marcial, mas um mestre que consegue esvaziar a mente e não temer a morte. A autoconfiança, a maestria e o sentimento de domínio são sentimentos que contrapõem o medo e a insegurança.


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